Johny Srouji, chefe de chips da Apple, considera deixar a empresa

Johny Srouji, chefe de chips da Apple, considera deixar a empresa

Uma nova reportagem de Mark Gurman, da Bloomberg, aponta que a Apple vive um de seus momentos mais delicados em termos de liderança — e agora o foco está justamente em um dos executivos mais importantes da empresa: Johny Srouji.

Segundo Gurman, Srouji — vice-presidente sênior de tecnologias de hardware, responsável pelos chips da linha Apple Silicon e pela transição dos Macs de Intel para processadores próprios, além do esforço para desenvolver um modem 5G (C1, C1X…) para substituir os da Qualcomm — informou recentemente a Tim Cook que está cogitando deixar a companhia num futuro próximo. Ele teria dito a colegas inclusive que, se sair, deverá continuar sua carreira em outra empresa, e não partir para uma aposentadoria.

A Apple, por sua vez, estaria se movimentando de forma agressiva para mantê-lo. De acordo com Gurman, a empresa ofereceu um pacote de compensação bem mais robusto e discute dar mais poder a Srouji, com a possibilidade de um cargo de diretor de tecnologia (chief technology office, ou CTO) no horizonte. Internamente, executivos teriam ventilado a ideia de unificar as áreas de engenharia de hardware e tecnologias de hardware sob um único guarda-chuva liderado por ele. Um arranjo desse tipo, porém, só faria sentido em um cenário em que John Ternus, atual chefe de engenharia de hardware, viesse a assumir o posto de CEO.

Por ora, Srouji permanecerá na Apple, e não há uma decisão final sobre a sua saída — mas o simples fato de ele estar colocando isso na mesa já é visto como um sinal de alerta dentro da companhia, ainda mais nos tempos atuais.

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Em paralelo, a Bloomberg também revelou que Cheng Chen, executivo sênior de telas responsável pela área de displays e pela óptica do Vision Pro e de outras tecnologias de tela da Apple, está deixando a empresa para se juntar à divisão de hardware da OpenAI. É mais um movimento relevante justamente em uma área estratégica para futuros produtos de realidade misturada e dispositivos com forte ênfase em IA.

Essas notícias se somam a uma dança de cadeiras que acompanhamos de perto nas últimas semanas: a saída do chefe de IA John Giannandrea, a ida de Alan Dye (líder de design de interface) para a Meta, e os anúncios de aposentadorias da diretora jurídica Kate Adams, da vice-presidente Lisa Jackson (meio ambiente e políticas públicas) e do ex-COO Jeff Williams, entre outros nomes de longa data da empresa. Trata-se de uma renovação incomumente intensa na camada mais alta de liderança da Apple.

O Wall Street Journal publicou ainda ontem um panorama complementar sobre esse momento, destacando um êxodo mais amplo de talentos de engenharia e design para rivais como Meta e OpenAI. Engenheiros ligados a áreas como áudio, Apple Watch, robótica, interfaces e outras tecnologias centrais teriam deixado a Apple nos últimos meses, ajudando a reforçar as equipes justamente de empresas que tentam moldar a “próxima era” pós-iPhone com dispositivos orientados a IA, smartglasses e novas formas de interação.

Ao mesmo tempo, é importante colocar esse quadro em contexto: a Apple tem um corpo gigantesco de especialistas, designers e engenheiros, e continua contratando agressivamente — inclusive pescando talentos justamente nessas concorrentes e em inúmeras startups. O recorte do WSJ foca, por definição, em quem está saindo; isso não significa que ninguém esteja entrando ou que a companhia esteja em um processo de “desmonte”, e sim que há uma disputa de talentos cada vez mais acirrada em torno de IA, hardware e novas categorias de produtos.

No fim das contas, o ponto mais sensível da reportagem da Bloomberg é o futuro de Srouji. Se permanecer, a tendência é que ele ganhe ainda mais peso dentro da estrutura da Apple e possa assumir um papel ampliado na definição de tecnologias-chave para os próximos anos. Se optar por sair, a empresa perderá não só o arquiteto de uma das suas maiores vantagens competitivas recentes — o Apple Silicon — como vê essa expertise potencialmente migrar para uma concorrente em um momento em que a corrida por dispositivos de próxima geração nunca foi tão intensa.

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