Uma nova reportagem de Mark Gurman, da Bloomberg, aponta que a Apple vive um de seus momentos mais delicados em termos de liderança — e agora o foco está justamente em um dos executivos mais importantes da empresa: Johny Srouji.
Segundo Gurman, Srouji — vice-presidente sênior de tecnologias de hardware, responsável pelos chips da linha Apple Silicon e pela transição dos Macs de Intel para processadores próprios, além do esforço para desenvolver um modem 5G (C1, C1X…) para substituir os da Qualcomm — informou recentemente a Tim Cook que está cogitando deixar a companhia num futuro próximo. Ele teria dito a colegas inclusive que, se sair, deverá continuar sua carreira em outra empresa, e não partir para uma aposentadoria.
BREAKING: Apple’s chip chief Johny Srouji informed CEO Tim Cook he is seriously considering leaving the company and would likely continue his career elsewhere rather than retire. Apple is urgently pushing to keep him. He remains at least for now. https://t.co/7RcouQZ6Mm
— Mark Gurman (@markgurman) December 6, 2025
A Apple, por sua vez, estaria se movimentando de forma agressiva para mantê-lo. De acordo com Gurman, a empresa ofereceu um pacote de compensação bem mais robusto e discute dar mais poder a Srouji, com a possibilidade de um cargo de diretor de tecnologia (chief technology office, ou CTO) no horizonte. Internamente, executivos teriam ventilado a ideia de unificar as áreas de engenharia de hardware e tecnologias de hardware sob um único guarda-chuva liderado por ele. Um arranjo desse tipo, porém, só faria sentido em um cenário em que John Ternus, atual chefe de engenharia de hardware, viesse a assumir o posto de CEO.
Por ora, Srouji permanecerá na Apple, e não há uma decisão final sobre a sua saída — mas o simples fato de ele estar colocando isso na mesa já é visto como um sinal de alerta dentro da companhia, ainda mais nos tempos atuais.
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Em paralelo, a Bloomberg também revelou que Cheng Chen, executivo sênior de telas responsável pela área de displays e pela óptica do Vision Pro e de outras tecnologias de tela da Apple, está deixando a empresa para se juntar à divisão de hardware da OpenAI. É mais um movimento relevante justamente em uma área estratégica para futuros produtos de realidade misturada e dispositivos com forte ênfase em IA.
In another new development, Apple senior displays executive – in charge of optics in the Vision Pro and other screen technologies – Cheng Chen is being hired by OpenAI’s hardware division. https://t.co/7RcouQZ6Mm https://t.co/ieRDxzm1sY
— Mark Gurman (@markgurman) December 6, 2025
Essas notícias se somam a uma dança de cadeiras que acompanhamos de perto nas últimas semanas: a saída do chefe de IA John Giannandrea, a ida de Alan Dye (líder de design de interface) para a Meta, e os anúncios de aposentadorias da diretora jurídica Kate Adams, da vice-presidente Lisa Jackson (meio ambiente e políticas públicas) e do ex-COO Jeff Williams, entre outros nomes de longa data da empresa. Trata-se de uma renovação incomumente intensa na camada mais alta de liderança da Apple.
O Wall Street Journal publicou ainda ontem um panorama complementar sobre esse momento, destacando um êxodo mais amplo de talentos de engenharia e design para rivais como Meta e OpenAI. Engenheiros ligados a áreas como áudio, Apple Watch, robótica, interfaces e outras tecnologias centrais teriam deixado a Apple nos últimos meses, ajudando a reforçar as equipes justamente de empresas que tentam moldar a “próxima era” pós-iPhone com dispositivos orientados a IA, smartglasses e novas formas de interação.
Ao mesmo tempo, é importante colocar esse quadro em contexto: a Apple tem um corpo gigantesco de especialistas, designers e engenheiros, e continua contratando agressivamente — inclusive pescando talentos justamente nessas concorrentes e em inúmeras startups. O recorte do WSJ foca, por definição, em quem está saindo; isso não significa que ninguém esteja entrando ou que a companhia esteja em um processo de “desmonte”, e sim que há uma disputa de talentos cada vez mais acirrada em torno de IA, hardware e novas categorias de produtos.
No fim das contas, o ponto mais sensível da reportagem da Bloomberg é o futuro de Srouji. Se permanecer, a tendência é que ele ganhe ainda mais peso dentro da estrutura da Apple e possa assumir um papel ampliado na definição de tecnologias-chave para os próximos anos. Se optar por sair, a empresa perderá não só o arquiteto de uma das suas maiores vantagens competitivas recentes — o Apple Silicon — como vê essa expertise potencialmente migrar para uma concorrente em um momento em que a corrida por dispositivos de próxima geração nunca foi tão intensa.
Preparem a pipoca. 🍿