OpenAI, Anthropic e gigantes da tecnologia unem-se sob a égide da Linux Foundation para criar os padrões que vão conectar o futuro dos agentes de IA. A intenção declarada é evitar um mundo de sistemas fechados e incompatíveis, construindo em seu lugar uma infraestrutura aberta e compartilhada.
Imagine poder pedir a um assistente de IA para desenvolver um aplicativo web no seu editor de código, baseado em um design do Figma, e depois comitar automaticamente o código em um novo repositório no GitHub. Essa é uma automação possível hoje apenas com a combinação certa de ferramentas. O desafio, reside na “combinação certa”. Se existem diversas ferramentas similares, por que elas não podem integrar o mesmo workflow?
É para resolver esse impasse que surge a Agentic AI Foundation (AAIF), uma iniciativa recém-lançada pela Linux Foundation com um peso histórico considerável. A fundação reúne alguns dos nomes mais influentes da indústria, incluindo OpenAI, Anthropic, Google, Microsoft e AWS em torno da missão de padronizar a base que permite aos agentes de IA acessar ferramentas, dados e executar tarefas de forma confiável.
Por que um padrão aberto é tão urgente?
Os agentes de IA representam a próxima grande evolução da inteligência artificial. Eles vão além dos chatbots que apenas respondem perguntas; são sistemas que podem tomar ações autônomas, como modificar arquivos, executar comandos e interagir com outras aplicações. Contudo, sem um protocolo comum, cada empresa estaria fadada a construir sua própria rede fechada de integrações.
Segundo Jim Zemlin, diretor executivo da Linux Foundation, o objetivo da AAIF é evitar um futuro de “pilhas proprietárias com muros fechados”, onde o comportamento dos agentes e suas conexões ficariam trancados em algumas poucas plataformas. A OpenAI ecoa esse sentimento, afirmando que, sem convenções comuns, o desenvolvimento de agentes arrisca fragmentar e em “silos incompatíveis” que limitam a segurança e o progresso.
As três peças fundamentais do quebra-cabeça
O pontapé inicial da AAIF veio com doações de tecnologia de três de seus cofundadores, que juntos formam um ecossistema complementar.
Model Context Protocol (MCP) – A “porta USB-C” da IA
Doado pela Anthropic, o MCP é o coração da interoperabilidade. Funciona como um protocolo universal que permite que qualquer agente de IA se conecte de forma padronizada a qualquer fonte de dados ou ferramenta que possua um “servidor MCP”. Em pouco mais de um ano, já conta com mais de 10.000 servidores publicados, sendo adotado por gigantes como Microsoft Copilot, VS Code, Gemini e o próprio ChatGPT. O MCP elimina a necessidade de criar uma integração personalizada para cada nova API ou banco de dados.
AGENTS.md – O manual de instruções para máquinas
Contribuição da OpenAI, o AGENTS.md é um arquivo de markdown simples que reside no diretório raiz de um projeto de software. Ele age como um README para agentes de IA, fornecendo instruções específicas do projeto, como comandos de instalação, estilo de código e testes. Esse padrão garante que diferentes assistentes de programação (como GitHub Copilot ou Cursor) se comportem de forma previsível e segura ao trabalhar no mesmo código. Desde seu lançamento em agosto de 2025, mais de 60.000 projetos de código aberto já o adotaram.
Goose – O framework executor
Doado pela Block (empresa por trás do Square), o Goose é um framework de agente de IA de código aberto projetado para executar fluxos de trabalho complexos. Ele é construído para integrar-se nativamente ao MCP e respeitar as diretrizes do AGENTS.md. Isso permite que desenvolvedores e empresas construam agentes personalizados que podem, por exemplo, acessar ferramentas de desenvolvimento, APIs de nuvem e bancos de dados de forma padronizada, tudo a partir de um único ambiente.
Um por todos e todos por um
A formação da AAIF sob a guarda da Linux Foundation não é um gesto simbólico. A fundação tem um histórico de ser a casa de projetos de infraestrutura crítica de código aberto, como o próprio kernel Linux e o Kubernetes. Sua estrutura de governança neutra é projetada para garantir que nenhuma única empresa controle o rumo desses padrões fundamentais.
Se o MCP, o AGENTS.md e ferramentas como o Goose se tornarem a infraestrutura padrão, o cenário dos agentes de IA pode mudar de plataformas fechadas para um mundo de software aberto e combinável, reminiscente dos sistemas interoperáveis que construíram a web moderna. Em outras palavras, a AAIF está tentando garantir que a próxima era da IA seja construída sobre os princípios de abertura e colaboração que impulsionaram grandes inovações do mundo da informática.
Fique por dentro das principais novidades da semana sobre tecnologia e Linux: receba nossa newsletter!