Aprender Linux pode ser desafiador, especialmente quando você se depara com termos, conceitos e ferramentas que parecem ter surgido diretamente de um laboratório de computação dos anos 80. Para muitos iniciantes, o sentimento é quase sempre o mesmo: uma mistura de curiosidade, empolgação e uma certa dose frustração quando alguma coisa simplesmente não funciona como deveria. Mas a verdade, que quase ninguém conta, é que se aprofundar no Linux não precisa ser sinônimo de sofrimento. Com o método certo, tudo pode ser muito mais fácil, leve e até divertido.
O Dio, por exemplo, passou anos estudando Linux, explorando sistemas, quebrando coisas, consertando outras, sempre tentando encontrar uma forma de aprender que fosse coerente com a maneira como o cérebro humano realmente funciona. Depois de muito tempo entre livros de filosofia, psicologia, neurociência, papers, experimentos pessoais e incontáveis horas no terminal, temos um método capaz de mudar completamente a relação com o aprendizado.
E é sobre esse método que falaremos hoje. O nome dele é CORRER. Mas não se preocupe, não tem nada a ver com abandonar o computador e literalmente sair correndo quando dá erro, embora às vezes dê vontade. Estamos falando de CORRER como acrônimo de Capture, Organize, Revise, Replique, Expanda e Repita, uma forma estruturada de aprender Linux e praticamente qualquer outra coisa com o mínimo de frustração, estresse e sem aquela sensação de “isso não é pra mim”.
Esse método não é uma promessa milagrosa, não está escondido atrás de um curso secreto, e não tem evento gratuito “somente hoje”. Ele é apenas um jeito de estudar que funciona porque respeita a maneira como o nosso cérebro aprende, enquanto compensa nossos pontos fracos, como a distração, a sobrecarga cognitiva e a dificuldade de transformar memórias de curto prazo em aprendizados permanentes.
A pirâmide do conhecimento
Antes de chegarmos ao CORRER, precisamos entender uma ideia fundamental: a pirâmide do conhecimento no Linux. Ela tem apenas três níveis, mas explica por que tanta gente acha o Linux difícil e por que outras pessoas sobem os degraus com facilidade.
A base dessa pirâmide é a familiaridade. Sem ela, absolutamente nada funciona. Se você gosta de tecnologia, certamente já ouviu palavras como SSD, RAM, CPU e FPS, e provavelmente entende o que cada uma significa. Mas se você já usou esses termos perto de alguém que não é da área, provavelmente viu aquele olhar clássico de “vazio”. Isso mostra uma verdade essencial: não dá para avançar em absolutamente nada se você não fala minimamente a “língua” daquele assunto.
É como tentar ensinar alguém a fritar um ovo quando a pessoa não sabe o que é um ovo, o que é uma frigideira e nem para que serve o óleo. No Linux acontece o mesmo: antes de qualquer avanço significativo, você precisa se acostumar com palavras, conceitos, ferramentas e expressões que fazem parte desse universo.
E como se familiarizar com algo?
A resposta é simples: da mesma forma que você aprendeu a falar quando era criança. Observação, repetição, tentativa e erro. Você aprendeu a falar porque vivia imerso naquele ambiente. Da mesma forma que um intercâmbio te ensina um idioma pela convivência, usar o Linux diariamente te ensina a “linguagem” do sistema.
E é aqui que muita gente erra: tenta aprender Linux vendo tutoriais, mas continua usando Windows como sistema principal. Isso é como tentar aprender inglês estudando só uma vez por semana, sem ouvir uma música, sem ver um filme, sem falar com ninguém. O progresso existe, mas é lento e frustrante. Já quando você mergulha no ambiente, tudo muda.
Tenha Linux instalado no computador, seja como sistema principal, em um segundo PC ou em uma máquina virtual. O segredo é conviver com o sistema diariamente. Pequenas doses de contato valem mais do que horas de estudo concentrado. Familiaridade se cria com repetição.
E é aqui que entra o método CORRER, que potencializa esse processo e transforma curiosidade em domínio real.
Vamos CORRER?
O primeiro passo é capturar. O cérebro humano é péssimo em lembrar de tudo. Quantas vezes você já aprendeu algo interessante, mas depois esqueceu completamente? Toda vez que uma dúvida surgir enquanto você usa Linux, capture. Anote imediatamente. Pode ser no celular, em um aplicativo simples, no todoist, em qualquer lugar de fácil acesso. Não importa a ferramenta, importa registrar o pensamento vivo, na hora em que ele aparece.
Mas capturar sem organizar é como guardar coisas numa gaveta bagunçada: elas existem, mas você nunca vai achar. É por isso que o segundo passo é organizar. Pegue as dúvidas, descobertas e aprendizados registrados e categorize. Pode ser em um Notion, Obsidian ou até em arquivos Markdown simples. O essencial é separar o que você já sabe do que quer aprender.
Com isso, chega o momento de revisar. Revisar transforma uma anotação solta em um conhecimento realmente absorvido. Nesse processo, você observa se entendeu corretamente, confirma fontes e responde às próprias perguntas. Por exemplo, se você anotou que “Linux é um kernel”, é nesse momento que você revisa esse conceito e responde: “o que exatamente é um kernel?”. Assim, suas dúvidas começam a migrar da pilha “quero entender” para a pilha “agora eu sei”.
Só que estudo sem prática se perde fácil. Por isso, replicar é fundamental. Abra o sistema, execute o comando que você está estudando, teste, brinque, explore. Esse envolvimento prático não só reforça o aprendizado, como também gera novas perguntas. E elas são ouro para aplicar o CORRER. Confira onde fica o kernel, como ver sua versão, quais arquivos o sistema usa para inicialização. Mexer no sistema faz com que você explore sua curiosidade natural e aprenda com muito mais profundidade.
E, naturalmente, isso leva ao passo de expandir. Expansão é o processo de usar suas respostas para gerar novas perguntas. Esse ciclo alimenta o aprendizado porque transforma cada descoberta em uma ponte para outra. Por exemplo: se o Linux usa um kernel, qual é o kernel do Windows? Se esse comando mostra a versão do kernel, que outros comandos similares existem?
Quando você perceber, estará pronto para o último passo: repetir. Sem repetição, nada fixa. Repetir não significa estudar o mesmo conteúdo eternamente, mas sim manter o hábito de capturar, organizar, revisar, replicar e expandir. Esse ciclo transforma o aprendizado em algo contínuo e natural.
Galgando a pirâmide
O método CORRER funciona extremamente bem na base da pirâmide, mas também nos níveis superiores. A segunda camada é o controle, também conhecido como administração. Depois que você domina a familiaridade, você começa a se perguntar não mais “o que é isso?”, mas “como configuro isso?”. Essa transição acontece naturalmente, sem cerimônia. Se antes você pensava “o que é DNS?”, agora vai pensar “como configuro um DNS manualmente?”. É a prova de que você mudou de nível.
E, por fim, chegamos ao topo da pirâmide, a automação. Esse é o ponto em que você começa a buscar eficiência, a criar scripts, tarefas automatizadas, processos repetitivos otimizados. É o estágio mais comum na área profissional, quando o Linux vira uma ferramenta de trabalho e você passa a se perguntar “como faço isso mais rápido?”. Mas é importante dizer: você não precisa necessariamente chegar ao topo. A familiaridade e o controle já colocam você no grupo de pessoas que realmente dominam a tecnologia acima da média.
Humildade intelectual
Existe, porém, uma lição fundamental que não aparece explicitamente na pirâmide, mas essencial para qualquer pessoa que estuda Linux: humildade. A arrogância no conhecimento é um veneno disfarçado. Quem sabe muito costuma saber o quanto ainda não sabe. Já quem sabe pouco pode cair na armadilha do efeito Dunning-Kruger, achando que sua visão limitada é absoluta. No mundo do Linux, esse fenômeno aparece quando alguém acha que existe apenas um jeito de fazer algo, ou quando acredita que sua distribuição é “melhor” objetivamente. Humildade abre portas; arrogância fecha.
Mesmo após anos estudando Linux, ainda nos pegamos revisando conceitos básicos, encontrando dúvidas novas, percebendo lacunas que deixamos passar. Isso não é sinal de fraqueza; é parte do processo. Saber muito significa estar confortável em admitir que sempre há mais para explorar.
O método CORRER é uma mentalidade. Ele transforma dificuldades em curiosidade, falhas em aprendizado e dúvidas em oportunidades. Ele funciona porque respeita a natureza do aprendizado humano e transforma o estudo em um hábito sustentável e prazeroso.
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