O Federal Ministry for Economic Affairs, Energy and Tourism (BMWET) da Áustria deu um passo largo rumo à soberania digital ao adotar o Nextcloud como plataforma principal de colaboração e gestão de dados, totalmente hospedada em infraestrutura própria no país. A iniciativa busca fortalecer o controle sobre informações sensíveis, reduzir dependências externas e garantir o cumprimento das diretrizes de privacidade europeias. O projeto, que envolveu cerca de 1.200 funcionários, foi concluído em apenas quatro meses, da prova de conceito à implementação completa, com impacto mínimo na rotina de trabalho.
Por que soberania digital agora
A decisão foi motivada por uma análise de risco que revelou a falta de segurança jurídica no uso de soluções de nuvem baseadas fora da Europa. Diante das exigências do Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) e da diretiva NIS2, o ministério optou por uma estratégia de independência tecnológica. Segundo o CISO da instituição, Florian Zinnagl, o órgão é responsável por uma grande quantidade de informações sensíveis de cidadãos, empresas e servidores públicos, e essa responsabilidade exige uma infraestrutura nacional, controlada pelo próprio Estado austríaco.
A transição para o Nextcloud foi planejada para ser o mais transparente possível. Após uma fase de testes bem-sucedida, o sistema foi integrado às soluções já existentes, permitindo a modernização dos fluxos de trabalho sem rupturas. Houve uma forte campanha de comunicação interna e programas de treinamento voltados a garantir a adaptação dos funcionários, o que resultou em alto índice de aceitação.
Pragmatismo e continuidade
Apesar da mudança estrutural, o BMWET manteve parte das ferramentas anteriores, como o uso do Microsoft Teams em setores específicos. A intenção não é romper de imediato com todas as soluções proprietárias, mas avançar gradualmente em direção à autonomia digital. Esse pragmatismo mostra que a soberania tecnológica pode ser alcançada por etapas, sem comprometer a eficiência ou interromper serviços essenciais.
Com essa iniciativa somada à de seu exército, a Áustria se une a outras administrações públicas europeias que buscam reduzir a dependência de provedores estrangeiros. O caso do estado alemão de Schleswig-Holstein, que já havia migrado integralmente para um ambiente digital soberano, serviu de inspiração direta. Além da Alemanha, instituições públicas da Holanda, Dinamarca e França estão trocando experiências e adotando modelos semelhantes, demonstrando que a soberania digital é uma meta tangível para o setor público europeu.Conheça alguns aplicativos abertos europeus que desafiam a hegemonia norte-americana!