EUA anuncia tarifas sobre chips chineses, mas adia aumento para 2027

EUA anuncia tarifas sobre chips chineses, mas adia aumento para 2027

Em uma resposta à longa campanha da China pelo domínio no setor de chips, a administração do presidente Donald Trump anunciou uma nova rodada de tarifas sobre importações de semicondutores chineses. A medida, porém, vem com um inesperado período de espera: as tarifas entram em vigor imediatamente com uma alíquota de 0% e só serão aumentadas em 23 de junho de 2027.

A decisão, formalizada em um Aviso de Ação publicado pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) em 23 de dezembro de 2025, é o resultado final de uma investigação iniciada em dezembro de 2024 durante o governo Biden. A investigação concluiu que as políticas industriais da China, que buscam ativamente a dominância no setor de semicondutores, são “injustas” e “oneram ou restringem o comércio dos EUA”.

O foco principal são os chips “legados” ou de “nó maduro”,  tecnologia mais antiga, porém absolutamente crítica. Esses semicondutores são componentes essenciais em produtos de indústrias como automotiva, defesa, dispositivos médicos, telecomunicações e geração de energia, tornando-os uma preocupação de segurança econômica e nacional.

Uma estratégia em duas fases

A abordagem escolhida pelos EUA é calculada. A decisão de impor a tarifa já, mas com uma taxa inicial de zero, cria uma estrutura legal imediata. No entanto, o aumento real é adiado por 18 meses, criando uma janela de negociação e adaptação.

As características da ação são:

  • Taxa inicial: 0%, efetiva a partir de 23 de dezembro de 2025.
  • Data de aumento: 23 de junho de 2027.
  • Taxa futura: Será anunciada pelo menos 30 dias antes da data de aumento.

Importante notar que estas novas tarifas se somarão à tarifa adicional de 50% já em vigor desde janeiro de 2025, decretada em uma investigação anterior sobre transferência forçada de tecnologia. Embora haja alguma sobreposição, os códigos tarifários da nova lista também incluem componentes como diodos, transistores e amplificadores, o que significa que alguns produtos poderão enfrentar ambas as tarifas.

Esse cronograma é um sintoma da complexa dança geopolítica atual. Enquanto o presidente Trump havia ameaçado anteriormente tarifas de “25, 50 ou até 100 por cento” em semicondutores, a decisão final adota um tom mais moderado.

Analistas apontam que a data de 2027 pode ser um sinal de que ainda há espaço para diálogo e negociação. O atraso pode estar ligado a esforços para reduzir as tensões com Pequim, especialmente após a China ter adiado recentemente suas próprias restrições à exportação de metais de terras raras, matérias-primas fundamentais para a indústria de alta tecnologia que o país controla.

A China reagiu prontamente ao anúncio. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores expressou “forte oposição” e advertiu que a prática “desestabiliza as cadeias industriais e de suprimentos globais”.

Contexto e motivação

A investigação que levou a esta decisão descobriu uma dependência profunda e potencialmente arriscada da indústria americana de componentes chineses. Um relatório do governo aponta que, em média, 66% dos produtos (por receita) analisados continham ou provavelmente continham pelo menos um chip fabricado em fundições da China.

Os EUA argumentam que a posição dominante da China não é resultado de livre mercado, mas de práticas industriais estatais agressivas, incluindo apoio financeiro maciço, supressão salarial e políticas opacas que baixam artificialmente os preços. A meta declarada de um plano industrial chinês de capturar 56% das vendas do mercado internacional de semicondutores é citada como prova dessa intenção.

O objetivo final dos EUA é reduzir a dependência de componentes chineses e fortalecer a resiliência de sua própria cadeia de suprimentos, incentivando a produção doméstica e de aliados por meio de incentivos como o CHIPS Act. A tarifa de 0% por 18 meses serve como um aviso formal à China e um período para que as empresas globais reconsiderem suas estratégias de fornecimento, antes que custos comerciais mais pesados sejam aplicados.

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