Um dos maiores motivos para as pessoas não conseguirem trocar o Windows pelo Linux simplesmente virou pó nos últimos anos: jogar no Linux deixou de ser gambiarra e virou algo totalmente viável para a maioria das pessoas. Dados recentes analisados a partir do ProtonDB mostram que quase 90% dos jogos de Windows já rodam no Linux, graças ao Proton, ao WINE e ao empurrão gigantesco que o Steam Deck deu nesse ecossistema.
E tem mais: considerando que nem o próprio Windows roda 100% dos jogos de Windows, especialmente os títulos mais antigos, dá pra dizer que a situação do pinguim nunca foi tão boa.
Só que aí vem a pergunta prática:
“Tá, mas como EU faço para aproveitar meus jogos no Linux sem decorar meia dúzia de comandos no terminal?”
Neste artigo super completo, vamos te mostrar como jogar no Linux sem complicação, sem usar o terminal, sem configuração desnecessária. Só o que realmente importa: instalar o sistema, instalar seus jogos e se divertir.
E o melhor: o setup básico são só 4 passos antes de você sair jogando. Depois disso, se você quiser ir além, separamos 7 dicas extras que melhoram ainda mais a experiência, mas são totalmente opcionais.
Por que escolhemos o Zorin OS como exemplo
Para mostrar tudo isso na prática, a distro escolhida foi o Zorin OS.
Ele tem uma interface amigável, lembra bastante o Windows, é pensado para iniciantes e traz praticamente tudo o que você precisa para usar o PC no dia a dia, inclusive para jogar. Não é coincidência que o Zorin OS esteja bombando desde o fim do suporte ao Windows 10: a versão 18 quebrou recordes de download, com a maioria dos novos usuários vindo justamente do sistema da Microsoft.
Apesar de usarmos o Zorin de referência aqui, quase tudo o que vamos ver serve para outras distros desktop também, como Ubuntu, Linux Mint, Pop!_OS, etc., com pequenas variações de nome de menus e layout.
Se você ainda não instalou o Zorin OS e quer testar, confira o passo a passo completo!
Os 4 passos para começar a jogar no Linux
Vamos começar pela parte que interessa: como sair do zero até rodar seus jogos. Como prometido, são apenas quatro etapas, e as duas primeiras são tão simples que quase não dá nem pra chamar de “passo”.
1. Verifique se o sistema está atualizado
Muita gente tem trauma de atualização por causa do Windows, que frequentemente é demorado, reinicia na hora errada, e às vezes quebra coisas. No Linux, especialmente em distros mais conservadoras, o cenário é bem diferente.
No Zorin OS, as atualizações são previsíveis, muito pouco invasivas e nunca vão reiniciar sua máquina sem você permitir. Para jogos, manter o sistema em dia é importante porque atualizações podem trazer drivers de vídeo melhores, bibliotecas gráficas mais novas e correções de bugs que impactam o desempenho.
No Zorin, o processo é assim, abra o menu e procure por “Atualizador de programas”. Se o sistema listar atualizações, clique em Instalar.

Ele pode pedir sua senha (é uma ação administrativa), digite e confirme. Espere terminar. Se aparecer uma mensagem dizendo que é necessário reiniciar para completar, significa que houve atualização de kernel ou driver.

O sistema não vai te forçar a reiniciar. Você pode continuar usando normalmente e só reiniciar quando for conveniente. Mas para aproveitar o kernel ou driver novo, em algum momento você vai precisar fazer esse reboot.
Também vale abrir a loja de aplicativos (ícone de sacola na barra) e conferir a aba de atualizações. Alguns aplicativos podem ser atualizados por lá separadamente.

Não é obrigatório atualizar todo dia, mas é uma boa prática dar uma olhada de tempos em tempos.
2. Verifique os drivers de vídeo
Sem um driver de vídeo adequado, mal dá pra jogar. A boa notícia é que, no Zorin OS, na maioria dos casos você não precisa instalar nada manualmente. De toda forma, se quiser, você pode conferir se está tudo certo.
Abra o menu e procure por “Drivers” ou “Programas e atualizações”. Na janela que abrir, vá até a aba “Drivers adicionais”.
Se aparecer a mensagem “Sem drivers adicionais disponíveis”, é um forte indicativo de que você está usando GPU integrada Intel ou uma AMD com suporte direto no kernel. Esses drivers vêm embutidos no próprio Linux, então você não precisa ficar caçando instalador, nem baixando nada do site da fabricante.
Se você tem uma NVIDIA, aí sim é comum aparecer uma lista com opções de driver (Geralmente “recomendado” e algumas versões alternativas). O ideal é certificar-se de que está usando a versão recomendada mais recente. Se não estiver, selecione o driver recomendado, aplique e aguarde a instalação.

Na maioria das vezes, o próprio sistema já terá feito isso por você durante a instalação. Então esse passo é quase sempre apenas uma checagem de segurança, não uma configuração ativa.
Sendo bem honestos: os passos 1 e 2 são praticamente opcionais, porque o sistema cuida de grande parte disso sozinho.
3. Instale o Steam
Agora sim chegamos ao coração do gaming no Linux. O Steam é, de longe, a plataforma mais importante para quem quer jogar no pinguim hoje. Se existe compatibilidade de jogos de Windows no Linux, é em grande parte pela Valve, desenvolvedora do Proton e do ecossistema construído em torno do Steam Deck.
No Zorin, instalar o Steam é tão simples quanto instalar qualquer outro aplicativo:
- Abra a loja de aplicativos (a sacolinha azul na barra);
- Pesquise por “Steam”;
- Clique no resultado e depois em Instalar.

Quando terminar, o ícone do Steam vai aparecer no menu, geralmente na categoria Jogos. Se você quiser facilitar ainda mais o acesso, clique com o botão direito e escolha algo como “Adicionar à área de trabalho” ou “Fixar na barra”.

Daqui pra frente, o processo é igual ao que você já conhece no Windows:
- Faça login na sua conta;
- Vá até a Biblioteca;
- Escolha um jogo que você já tenha;
- Clique em Instalar.
Para demonstração, faz todo sentido começar com um jogo leve, como Stardew Valley, que baixa rápido e roda em praticamente qualquer PC. Mas a lógica é a mesma para qualquer jogo: instalou, clicou em Jogar, pronto.

Na maioria dos casos, você não precisa fazer nenhuma configuração extra para o game rodar no Linux. O Steam cuida do Proton e da compatibilidade “por trás das câmeras”.
4. Instale o Heroic Games Launcher
O Steam é gigantesco, mas não é o único lugar onde a gente tem jogos. Muita gente tem uma coleção respeitável de games “espalhados” entre Epic Games Store, GOG e Prime Gaming, principalmente graças a promoções e jogos grátis. No Linux, uma das melhores formas de acessar tudo isso hoje é o Heroic Games Launcher.
Ele é um aplicativo open source que funciona como um “launcher unificado” para essas plataformas.
No Zorin OS, instalar o Heroic segue a mesma lógica:
- Abra a loja de apps;
- Pesquise por “Heroic”;
- Clique em instalar.

Ao abrir o Heroic, você pode conectar suas contas da Epic Games, GOG, Amazon / Prime Gaming, entre outras. Depois disso, a aba de Biblioteca vai listar todos os jogos que você já adquiriu nessas plataformas. A partir daí, é como no Steam, escolha o jogo, clique em Instalar e depois em Jogar.

O Heroic faz internamente a configuração do Wine/Proton que ele vai usar, sem precisar que você altere nada (a menos que queira). Com esses quatro passos — atualizar, conferir drivers, instalar Steam e instalar Heroic — você já tem um ambiente completamente funcional para jogos no Linux, sem ter aberto o terminal uma única vez.
Uma dose de realidade
Se 90% dos jogos de Windows já funcionam no Linux, isso significa que nem tudo vai rodar. A maioria dos casos problemáticos envolve jogos multiplayer que usam anti-cheat em nível de kernel, como os da Riot, que geralmente não têm suporte no Linux ou títulos com DRM muito agressivo, assim como proteções mal implementadas.
Isso não quer dizer que todo jogo online não roda, nem que é impossível jogar com amigos, mas é importante ter a expectativa certa: alguns jogos simplesmente não vão funcionar, pelo menos por enquanto.
A chave para não se frustrar é saber onde pesquisar antes de quebrar a cabeça. E aqui entra uma ferramenta essencial:
ProtonDB
O ProtonDB é um site mantido pela comunidade que reúne relatos de usuários jogando títulos de Windows no Linux.
Lá você encontra:
- Notas de compatibilidade (Platinum, Gold, Silver, Bronze, Borked);
- Comentários com dicas de configuração;
- Qual versão do Proton funcionou melhor;
- Ajustes específicos para determinados jogos.
Apesar do nome remeter diretamente ao Proton da Valve, você pode usar o ProtonDB também como referência quando estiver jogando via Heroic. Muita coisa se traduz direto: se funciona bem com Proton X na Steam, é um bom sinal de que você consegue rodar com uma versão similar de Proton/Wine no Heroic.
Outra fonte valiosa de ajuda é o Fórum Diolinux Plus, onde a comunidade compartilha experiências, tutoriais e soluções para problemas específicos de games. É totalmente gratuito para participar e tirar dúvidas.
Com isso em mente, agora sim dá para irmos para as 7 dicas extras que podem dar aquele polimento na sua experiência de jogos no Linux.
7 dicas práticas para melhorar sua experiência de games no Linux
As quatro etapas anteriores já te colocam jogando. As dicas a seguir são opcionais, mas ajudam a medir o desempenho, extrair um pouco mais do seu hardware, melhorar conforto visual e usabilidade, além de resolver casos específicos de compatibilidade.
A última dica é mais técnica, mas pode ser a diferença entre um jogo rodar mal ou rodar liso.
1. Monitore o desempenho (sem complicar)
Você não consegue otimizar o que não pode medir. E embora existam ferramentas avançadas como o MangoHUD, para a maioria das pessoas o monitor de desempenho embutido no próprio Steam é mais do que suficiente.
Dentro do Steam:
- Vá até o menu “Steam” → “Configurações”;
- Procure a seção “Em jogo”;
- Role a tela até encontrar o monitor de desempenho;
- Ative o recurso, escolha em qual canto da tela ele vai aparecer, o nível de detalhamento e, se quiser, configure uma tecla de atalho para ligar e desligar.

Ao abrir um jogo, você verá no canto da tela informações como FPS, uso de CPU e GPU, temperatura, consumo de VRAM, entre outros. Ajuda muito a investigar gargalos e comparar ajustes de gráficos. Mas vale um alerta: tem uma parcela da comunidade PC gamer que entra num loop infinito de ajuste de FPS e esquece de… jogar. Use com responsabilidade.

Se você quiser medir desempenho de jogos da Heroic com o mesmo overlay, uma opção é adicionar o jogo como “não-Steam game” dentro do próprio Steam, assim o monitor vai funcionar normalmente.
E, claro, se quiser ir para o “modo avançado”, o MangoHUD continua sendo uma ótima pedida, inclusive temos tutoriais e discussões sobre ele no fórum Diolinux, incluindo guias específicos para a integração com o Heroic.
2. Ajuste o modo de energia
Sistemas operacionais modernos tentam equilibrar automaticamente economia de energia e desempenho, mas nem sempre o perfil padrão é o ideal para jogos.
No Zorin OS, mudar isso é extremamente simples:
- Clique no painel de configurações rápidas (canto superior ou inferior, dependendo do layout);
- Procure a seção de “Modo de energia”;
- Altere de “Equilibrado” para “Desempenho”, ao menos enquanto estiver jogando títulos mais pesados.

Isso pode permitir que a CPU escale para frequências mais altas com mais agressividade e ajudar a manter FPS mais estáveis em cenários de carga intensa. Não é uma solução milagrosa, mas como é muito fácil de ativar e desativar, vale o teste. Em notebooks, lembre-se de que isso pode impactar o aquecimento e a duração da bateria.
3. Desative a aceleração do mouse
Se você joga FPS competitivo, essa dica é quase obrigatória. No Windows, é comum recomendar desmarcar a opção “Aprimorar precisão do ponteiro” para desativar a aceleração do mouse. No Linux, o conceito é parecido: você pode desligar a aceleração diretamente nas configurações do sistema.
No Zorin:
- Abra Configurações;
- Vá até “Mouse e touchpad”;
- Desative a opção de aceleração do mouse.

Na hora, você pode sentir o ponteiro mais “lento” ou “pesado”, mas nos jogos isso tende a aumentar a consistência dos movimentos. Se achar necessário, ajuste a velocidade básica do ponteiro na própria tela de configurações.
4. Desligue animações se o PC for muito fraco
Se o seu computador já sofre para rodar o desktop, qualquer recurso extra que você desligar pode ajudar um pouquinho os jogos, nem que seja apenas evitando que o sistema fique “engasgando” ao alternar entre o game e a área de trabalho.
No Zorin OS:
- Abra o menu e vá até “Zorin Appearance”;
- Procure a seção “Efeitos”;
- Desative as animações.

Isso deixa a interface mais “seca”, menos bonita, mas reduz o trabalho da GPU com efeitos visuais do desktop. Não espere milagres: se o hardware é realmente muito limitado, os jogos também vão sofrer. Mas, como é um ajuste simples e reversível, vale testar.
5. Verifique a taxa de atualização do monitor
Parece detalhe, mas acontece bastante: gente que compra um monitor de 120 Hz, 144 Hz ou 165 Hz e descobre após meses que o sistema estava usando 60 Hz o tempo todo.
No Zorin:
- Abra Configurações;
- Vá em “Telas” ou “Monitores”;
- Veja qual é a taxa de atualização configurada;
- Se você tiver um monitor de alta taxa, selecione o valor correto (120, 144, 165, etc.) e aplique.

Na maioria das instalações, isso já vem configurado automaticamente, mas não custa conferir, especialmente se você acabou de trocar de monitor ou de sistema. A diferença visual e de fluidez é enorme em jogos e até na navegação comum.
6. Aumente o tamanho das fontes para ganhar conforto
Essa dica não tem impacto direto no FPS, mas melhora bastante o conforto ao usar o sistema, algo especialmente importante se você passa muito tempo em launchers, chats, overlays e menus antes de entrar efetivamente nos jogos.
No Zorin, o tamanho padrão das fontes pode parecer pequeno, dependendo da sua tela. Para ajustar:
- Abra Zorin Appearance novamente;
- Vá até a aba “Fontes”;
- Procure a opção “Texto da interface”;
- Aumente de 10 para 11 ou 12, conforme o seu gosto e sua visão.

É impressionante como uma mudança tão simples pode tornar toda a experiência de uso mais agradável, principalmente em monitores grandes ou quando você está um pouco mais distante da tela.
7. Use o ProtonPlus para gerenciar versões customizadas do Proton
Agora vamos para a dica mais técnica, mas também uma das mais poderosas. O que faz jogos de Windows rodarem no Linux é, em grande parte, o Proton, uma camada de compatibilidade mantida pela Valve. O Steam já vem com algumas versões oficiais do Proton, e o Heroic também oferece escolhas de Wine/Proton.
Mas, como tudo isso é baseado em software livre, a comunidade criou versões customizadas, como o famoso Proton-GE, que muitas vezes resolvem problemas específicos de compatibilidade ou desempenho.
Você pode baixar essas versões manualmente e colocá-las nas pastas certas, mas isso é chato. A forma mais simples hoje é usar um aplicativo chamado Proton Plus, que facilita todo esse processo.
Ele aparece na loja de aplicativos da maioria das distros.

Dentro do Proton Plus, você pode escolher versões alternativas como Proton-GE, baixar e instalar com alguns cliques e gerenciar facilmente quais builds adicionais estão disponíveis no seu sistema.

Quando um relatório no ProtonDB indicar algo como “funcionou com Proton-GE versão tal”, essa é uma maneira muito simples de conseguir exatamente aquela versão sem ficar caçando arquivo na internet.
No Steam, após instalar a versão customizada via Proton Plus, você vai até:
- Propriedades do jogo;
- Seção de Compatibilidade;
- Marca a opção para forçar o uso de uma ferramenta específica;
- Escolhe a versão do Proton (GE ou outra) que você baixou.

E agora?
Com tudo isso, você já está mais do que pronto para aproveitar seus jogos no Linux:
- Tem um sistema estável, com interface amigável;
- Tem acesso ao Steam e às principais lojas alternativas via Heroic;
- Sabe onde procurar informações de compatibilidade (ProtonDB);
- Tem um conjunto de ajustes opcionais para extrair um pouco mais do hardware.
Mesmo assim, por melhor que esteja a compatibilidade, e ela está em um patamar histórico, com cerca de 90% dos jogos de Windows já rodando no Linux graças ao Proton e ao esforço da comunidade, ainda existem empresas que ignoram completamente o sistema do pinguim.
Alguns dos grandes jogos online continuam presos a anti-cheat em nível de kernel que não suportam Linux, e isso pode ser um fator decisivo para muita gente que só joga “aquele” título com os amigos.
Entenda melhor por que algumas empresas parecem odiar mais o Linux do que aos próprios cheaters!