A parceria entre Microsoft e OpenAI, que tem sido o epicentro da corrida pela inteligência artificial generativa, ganhou um novo capítulo, com números que impressionam até os analistas mais otimistas. Segundo os relatórios financeiros da Microsoft referentes ao trimestre encerrado em 30 de setembro de 2025, a empresa revelou que a OpenAI registrou um prejuízo líquido superior a US$ 11,5 bilhões no período.
A informação estava “escondida” nos documentos enviados à SEC (Securities and Exchange Commission) dos Estados Unidos, mas chamou a atenção de jornalistas e investidores por indicar uma discrepância colossal entre o faturamento da startup e seus custos operacionais.
Como o prejuízo foi identificado
Na página 9 do documento oficial da Microsoft, há o seguinte trecho:
“Temos um investimento na OpenAI Global, LLC (‘OpenAI’) e fizemos compromissos de financiamento totalizando US$ 13 bilhões, dos quais US$ 11,6 bilhões foram aportados até 30 de setembro de 2025. O investimento é contabilizado pelo método de equivalência patrimonial, com nossa parcela dos lucros ou perdas da OpenAI reconhecida em ‘outras receitas (despesas), líquidas’.”
Essa frase é essencial para entender o cálculo. Diferente da marcação a mercado (mark-to-market), usada quando o valor de um ativo é atualizado conforme sua cotação no mercado, o método de equivalência patrimonial reflete diretamente os lucros e prejuízos da empresa investida no balanço do investidor. Ou seja, se a OpenAI perde dinheiro, parte desse prejuízo aparece no balanço da Microsoft proporcional à sua participação acionária.
Mais adiante, na página 33 do mesmo relatório, o documento diz:
“O lucro líquido e o lucro diluído por ação foram negativamente impactados por perdas líquidas de investimentos na OpenAI, resultando em uma redução de US$ 3,1 bilhões e US$ 0,41 por ação, respectivamente.”
Se a Microsoft possui 27% das ações da OpenAI (proporção confirmada após a recente conversão da empresa em uma “Public Benefit Corporation”), então os US$ 3,1 bilhões registrados como perda correspondem aproximadamente a 27% do prejuízo total da OpenAI. Fazendo as contas, isso implica um déficit de cerca de US$ 11,5 bilhões no trimestre.
Pode ter sido ainda pior
Alguns analistas, como Matt Rosoff, apontaram que o valor real pode ser maior. Um detalhe adicional na página 37 do relatório sugere que, sem considerar impostos, a perda da Microsoft com a OpenAI foi de US$ 4,1 bilhões, e não US$ 3,1 bilhões.
Além disso, até a conversão da OpenAI em empresa de capital aberto, a Microsoft detinha 32,5% de participação, não 27%. Se esse percentual for aplicado ao cálculo, o prejuízo estimado ultrapassa US$ 12 bilhões em apenas três meses, um número quase equivalente ao faturamento anual de gigantes da tecnologia como a Adobe ou a SAP.
Para colocar em perspectiva: há informações de que a OpenAI gerou US$ 4,3 bilhões de receita no primeiro semestre de 2025, mas queimou cerca de US$ 6,7 bilhões apenas em custos de pesquisa e infraestrutura. Com isso, o prejuízo de US$ 11 bilhões em um trimestre não é impossível, apenas confirma que a empresa está investindo em uma escala sem precedentes para sustentar o avanço de modelos como o GPT-5 e o GPT-Enterprise.
Por que a Microsoft não está preocupada
Embora o número assuste, para a Microsoft ele é manejável, considerando que a empresa registrou lucro líquido de US$ 27,7 bilhões no mesmo trimestre.
Além disso, a parceria com a OpenAI é de longo prazo. Recentemente, a Microsoft descreveu o novo acordo firmado em outubro de 2025 como “a próxima fase da parceria”, que solidifica a colaboração entre as duas empresas. O contrato inclui:
- A confirmação de que a Microsoft detém 27% da OpenAI Group PBC, agora avaliada em US$ 135 bilhões;
- A extensão dos direitos de propriedade intelectual (IP) da Microsoft sobre modelos desenvolvidos pela OpenAI até 2032, incluindo os que vierem após a chegada de uma eventual AGI (Inteligência Artificial Geral);
- O compromisso da OpenAI de comprar US$ 250 bilhões em serviços da Azure nos próximos anos.
Com esses acordos, mesmo que a OpenAI opere com prejuízo no curto prazo, a Microsoft garante receitas astronômicas com infraestrutura em nuvem, posicionando a Azure como a espinha dorsal do ecossistema de IA mais popular do planeta.
O custo de liderar a corrida da IA
O modelo de negócios da OpenAI se baseia em pesquisa intensiva, escalabilidade e investimentos pesados em hardware, especialmente em chips NVIDIA e clusters de treinamento distribuído.
Segundo um relatório da Reuters, o custo de operação do ChatGPT e de seus modelos corporativos ultrapassa US$ 1 bilhão por mês para a Microsoft. Isso inclui manutenção de data centers, energia, armazenamento e equipe de engenharia, uma estrutura digna de um “Google do futuro”, mas que ainda não se sustenta financeiramente.
Mesmo assim, o ritmo de crescimento é impressionante: a OpenAI deve atingir US$ 13 bilhões em receita até o fim de 2025, quase o triplo do ano anterior. Porém, o “burn rate” (dinheiro gasto para crescer) ainda é descomunal.
A revelação de que a OpenAI perdeu mais de US$ 11,5 bilhões em um único trimestre inflama o debate sobre a sustentabilidade da corrida da inteligência artificial.
Os investidores enxergam um paradoxo: a IA generativa se tornou o maior motor de inovação da década, mas ainda não gera lucros proporcionais ao investimento. Mesmo com contratos multimilionários com empresas como Apple, Salesforce e Oracle, o custo de manter e treinar modelos de linguagem segue aumentando exponencialmente.
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