O relógio está correndo para o MySQL 8.0. A versão, lançada originalmente em abril de 2018, deixará de receber suporte oficial em 30 de abril de 2026, marcando o fim de um ciclo de quase oito anos de atualizações. A partir dessa data, bancos de dados ainda rodando nessa versão ficarão expostos a falhas de segurança e instabilidades, a menos que migrem para uma versão mais recente, como o MySQL 8.4 LTS, lançado em 2024.
O grande problema é que, segundo informações da empresa Percona ao portal The Register, mais da metade das instâncias de MySQL sob sua observação ainda utilizam a versão 8.0, mesmo a apenas seis meses do fim de vida útil (EOL).
“Todo software complexo tem bugs que ainda não foram descobertos. Alguns desses bugs são falhas de segurança e, quando o software deixa de ser mantido, esses problemas simplesmente não são corrigidos” Disse Peter Zaitsev, cofundador da Percona.
Um cenário preocupante para administradores de banco de dados
Segundo dados coletados pela ferramenta PMM (Percona Monitoring and Management), cerca de 58% das instâncias de MySQL e MariaDB monitoradas ainda estão na versão 8.0, enquanto 18,8% permanecem na 5.7, que perdeu suporte em 2023.
Isso significa que uma parcela expressiva dos administradores de banco de dados ainda adia a atualização, seja por medo de interrupções em sistemas críticos, seja por complexidade de migração.
Mas, segundo Zaitsev, o salto entre as versões 8.0 e 8.4 é bem menos traumático do que a migração anterior, da 5.7 para 8.0, que foi considerada uma das mais dolorosas da história do MySQL.
“A mudança para o 8.4 é relativamente simples. O problema é que muitas empresas ainda não perceberam que o tempo está se esgotando.”
O declínio da popularidade e as incertezas sobre o futuro
O MySQL, outrora sinônimo de banco de dados open source na era da pilha LAMP (Linux, Apache, MySQL, PHP), enfrenta uma queda de popularidade nos últimos anos.
De acordo com o ranking DB-Engines, sua pontuação vem diminuindo de forma constante, aproximando-se do PostgreSQL, que já o ultrapassou em várias métricas de uso e preferência entre desenvolvedores.
Na pesquisa Stack Overflow Developer Survey 2025, cerca de 40% dos profissionais ainda usam MySQL, enquanto 55% preferem PostgreSQL, um sinal de mudança de paradigma no mundo do desenvolvimento de software.
Enquanto isso, a própria Oracle, atual mantenedora do MySQL, parece ter redirecionado esforços para seu produto proprietário HeatWave, uma plataforma de análise e processamento de dados que usa o MySQL como base, mas com foco em nuvem e alto desempenho.
Essa estratégia, somada às recentes demissões em massa na equipe de engenharia do MySQL em setembro, reforça as dúvidas sobre o interesse de longo prazo da Oracle com o projeto.
Zaitsev foi categórico:
“Ouvi relatos de que até 70% da equipe de engenharia do MySQL foi dispensada. Isso mostra claramente uma redução de investimento no projeto open source.”
Migrar é inevitável, mas para onde?
A migração para o MySQL 8.4 LTS é a opção mais direta e menos arriscada, já que a versão traz suporte até abril de 2032 (considerando o suporte estendido) e oferece melhorias significativas em desempenho, confiabilidade e compatibilidade.
A Oracle agora mantém duas linhas de desenvolvimento:
- Releases “Innovation”, lançadas trimestralmente, com novos recursos e mudanças rápidas;
- Releases “LTS (Long-Term Support)”, voltadas para estabilidade, com ciclos de suporte de cinco anos de manutenção primária e três de suporte estendido.
O MySQL 8.4.7, lançado em setembro de 2025, é o mais recente da linha LTS e deve ser o destino natural para quem ainda está no 8.0.
Alternativamente, alguns administradores consideram a migração para o MariaDB, o fork criado em 2009 por Michael “Monty” Widenius, um dos fundadores originais do MySQL. Contudo, essa transição já não é tão simples quanto antes: as diferenças entre MySQL 8.0 e MariaDB 11.x cresceram consideravelmente, especialmente em funcionalidades avançadas e otimizações.
Zaitsev alerta:
“Migrar para MariaDB hoje exige muito mais trabalho do que atualizar para o MySQL 8.4. A compatibilidade caiu, e há mudanças estruturais profundas.”
Outra opção que vem ganhando força é o PostgreSQL, visto por muitos como o sucessor natural do MySQL no mundo open source. Ele oferece recursos avançados de transações, replicação e suporte nativo a JSON, mas o processo de migração costuma ser mais complexo e exige reescrever partes da aplicação.
É importante ter em mente que empresas que adiarem a migração arriscam expor dados sensíveis a falhas de segurança sem correção, além de enfrentar incompatibilidades com ferramentas modernas e provedores de nuvem.
Para muitos administradores, o desafio agora é equilibrar o custo e o tempo de uma atualização planejada com a urgência de manter a segurança e estabilidade dos sistemas. Afinal, “você pode adiar a atualização, mas não pode adiar as vulnerabilidades.”Fique por dentro das principais novidades da semana sobre tecnologia e Linux: receba nossa newsletter!