O Ubuntu Unity é uma das interfaces de desktop mais emblemáticas e controversas da história recente do Linux. Desenvolvida pela Canonical entre 2011 e 2017, a interface Unity foi criada com o objetivo de otimizar o uso do espaço na tela, especialmente em dispositivos com telas menores, como os populares netbooks da época. Após ser descontinuada pela Canonical em favor de uma volta ao GNOME, o projeto foi ressuscitado como uma flavour comunitária oficial do Ubuntu, mantendo viva sua proposta.
No entanto, o projeto enfrenta desafios significativos. A ausência do principal desenvolvedor, que é um adolescente que precisou se afastar para focar em seus estudos, resultou no cancelamento do lançamento da versão 25.10 e na previsão de que a próxima versão 26.04 não terá o status de LTS (Long-Term Support). Esta análise examina a experiência prática do Ubuntu Unity 24.04 LTS, a última versão estável disponível, buscando avaliar sua viabilidade e apelo em um cenário de desktop moderno, livre do peso da nostalgia.
Primeiras impressões e filosofia de design
A experiência com o Ubuntu Unity começa lembrando sua filosofia central: eficiência via teclado. A tela de boas-vindas exibe uma lista extensa de atalhos, indicando uma interface projetada para navegação rápida e produtiva.

O elemento mais característico é o Head-Up Display (HUD), acionado pela tecla Super (Windows), que funciona como um menu de busca universal para aplicativos, arquivos e configurações do sistema.

O design é orientado para a maximização do espaço útil na tela. A barra lateral, ou Launcher, pode ser configurada para ocultação automática, liberando pixels durante o trabalho em aplicativos em tela cheia. A joia da coroa dessa abordagem é o sistema de menus globais. Inspirado no macOS, ele remove a barra de menus tradicional das janelas dos aplicativos e a posiciona na barra superior do sistema. Isso, além de economizar uma linha vertical de espaço em cada janela, também centraliza o controle e proporciona um design bem bonito. O comportamento desses menus (sempre visíveis, visíveis ao passar o mouse ou integrados à barra de título) é altamente personalizável nas configurações.
Deficiências e sinais de estagnação
Apesar de sua base sólida, a experiência prática revela que a interface Unity 7, em sua essência, parou no tempo. Os problemas começam com uma instabilidade perceptível. Durante o uso, podem ocorrer bugs como janelas que não respondem a comandos de fechamento ou configurações de sistema que travam ao alternar entre opções, como efeitos visuais. Essas inconsistências são sintomas da atual crise de manutenção do projeto.
O aplicativo de Configurações do sistema está preso em uma era de design passada. Seu layout lembra versões antigas do macOS e pode ser considerado pouco intuitivo para novos usuários, dificultando a localização rápida de opções específicas.

Talvez a lacuna mais significativa para o usuário contemporâneo seja a ausência de uma loja de aplicativos gráfica integrada e amigável. A distribuição oferece apenas o gerenciador de pacotes Synaptic, uma ferramenta poderosa para usuários avançados, mas que apresenta uma lista crua de milhares de pacotes com terminologia técnica, podendo ser intimidadora e incompreensível para iniciantes. Em um ecossistema onde lojas visuais como a GNOME Software ou o Discover do KDE são a norma, essa falta representa uma barreira considerável à adoção.

A customização estética também mostra limitações. Embora seja possível alterar temas e cores de destaque (Accent Colors), o gerenciamento não é totalmente coerente, podendo apresentar opções de temas claros mesmo quando o sistema está configurado no modo escuro (e vice-versa).

Legado versus realidade
O Ubuntu Unity 24.04 LTS é a encapsulação de uma visão de desktop ousada e específica. Seus princípios fundamentais de otimização de espaço e produtividade via teclado permanecem válidos e impressionantemente bem implementados. Para usuários que trabalham extensivamente com atalhos de teclado ou possuem telas de tamanho limitado, a eficiência do Unity pode ser agradável.
Contudo, a realidade atual do projeto é de um desenvolvimento fragilizado. A combinação de bugs de interface, uma suíte de configurações com design datado, a falta crítica de uma loja de aplicativos moderna (que pode ser instalada pelo próprio usuário) e a incerteza sobre seu futuro suporte de longo prazo minam seriamente sua recomendação para a maioria dos usuários, especialmente para aqueles que estão migrando para o Linux pela primeira vez.
O Ubuntu Unity permanece um legado curioso e funcional. Ele serve como um testemunho de ideias inovadoras que influenciaram o design de desktop e como um refúgio para uma base de usuários dedicada que domina seu fluxo de trabalho. No entanto, para a adoção geral e para quem busca uma experiência desktop contemporânea, polida e com um roteiro de desenvolvimento claro, existem no mercado opções mais ativas e integradas. Sua relevância atual reside mais em seu valor histórico e de nicho do que como uma escolha principal competitiva.
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